Compositor: Georges Brassens
Estrofes a um ladrão
(Letra e Música: Georges Brassens - 1972)
Príncipe dos assaltantes e dos roubos
Tu que tiveste o bom-gosto de escolher minha casa
Apesar de eu propagar minhas canções obscenas
Em tua honra compus esta canção
Saiba que eu aprecio, de certa forma, o gesto
Que fizeste ao fechar a porta indo embora
Temendo que outros ladrões levassem o resto
Ladrões assim são raros atualmente
Tu não levaste mais que o estritamente necessário
Abandonando desdenhoso o execrável retrato
Que me deram de presente em meu aniversário
Quão bom crítico de arte serias tu, seu canalha
Outro sinal que indica total falta de vícios
Respeitoso ao bravo trabalhador tu não
Achaste decente me privar de meu violão
Solidariedade santa do ofício
Por todas estas razões, veja só, eu lhe perdoo
Sem pensar duas vezes, após madura reflexão
O que me roubaste, meu velho, eu lhe dou
Não poderiam cair em melhores mãos
Além do mais, eu, que lhe falo com minhas canções
Se não devesse encontrar o sucesso
Teria feito como tu, e tornar-me-ia desonesto
Poderia ter-me tornado teu comparsa, quem sabe?
Ao vender o que roubaste, não faça barganhas
Não vá vender tudo aos receptadores
Imponha seu poder lembrando do ditado
Que diz que essa gente é pior que os ladrões
Com a certeza de que eu não chamei a polícia
Não creia que seja necessário, de forma alguma, voltar
Sua menor reincidência anularia o charme
Deixe-me, eu lhe peço, com uma boa recordação
Senhor ladrão, meu amigo, que meus bens lhe beneficiem
Que Mercúrio te preserve da prisão
E nada de remorsos, agora estamos quites
Depois de tudo eu não lhe devia nenhuma canção
Post-Scriptum, se roubar é sua arte preferida
Sua única vocação, seu único talento
Empenhe-se na rua, coloque-se a trabalhar
E mesmo a polícia tu terás como cúmplice